Crise hídrica em Brasília, de quem é a culpa?
Nos últimos meses, o tema “Crise Hídrica em Brasília”, tem tomado conta dos noticiários, principalmente os da região do Distrito Federal; a crise hídrica que atingiu em cheio a capital de todos os brasileiros, e que nem mesmo as últimas chuvas tem conseguido amenizar a situação, tem tirado o sono dos governantes e de especialistas da área, que precisam do aval dos governos de Brasília e de Goiás para tomarem as medidas necessárias para reverter o quadro caótico a que se encaminha o abastecimento de água na capital. Mas a pergunta que todos querem a resposta é, de quem é a culpa pela crise?
Vários grupos políticos, se aproveitando do momento institucional delicado que Brasília está vivendo, agem de má fé e transformaram um problema natural em politicagem, de forma desprezível, para criar um caos social e atingir o governo Rolemberg, como se fosse ele o principal e único culpado pela falta de água nas barragens que abastecem a Capital Federal. Outros, de forma desprezível, querem atribuir a falta de água aos moradores do Entorno, principalmente os de Águas Lindas de Goiás; mas esse problema, que atingiu em cheio os brasilienses está longe de ter um único responsável.
Analisemos os fatos:
A Barragem do Rio Descoberto foi concluída em 1974, Águas Lindas não existia nem nos sonhos do cidadão mais Desprovido de sensatez que pudesse existir. A barragem foi projetada para abastecer parte de Brasília, mais precisamente as cidades satélites que estavam nascendo nos arredores da capital como: Ceilândia, Taguatinga e Guará; essa região estava prevista para chegar aos 500 mil habitantes por volta do ano 2000, mas já em 1980 ultrapassava 1 milhão. Hoje o Rio Descoberto abastece as áreas urbanas de Taguatinga, Sítio do Gama, Ceilândia, Samambaia, Gama, Núcleo Bandeirante (SMPW), Santa Maria, Recanto das Emas, Riacho Fundo (I e II), Candangolândia, Guará (I e II), Águas Claras, Colônia Agrícola Vicente Pires, além de fornecer água para o Sistema Santa Maria/ Torto, abrangendo as Regiões Administrativas de Brasília, Lago Sul e Cruzeiro. Com uma população estimada em mais de 2 milhões de pessoas.
Águas Lindas é outra personagem importante nessa história. O loteamento começou desordenado, ainda na década de 80. Por conta da proximidade com a Barragem do Descoberto, inicialmente foi nomeado de Parque da Barragem. Os baixos valores dos lotes atraíram centenas de famílias que chegavam à Brasília e não conseguiam adquirir os imóveis supervalorizados da capital federal, o que incentivou a construção de mais loteamentos totalmente irregulares e sem a menor infraestrutura. O município que é o 6º no ranking dos mais populosos do estado de Goiás, tem o número de habitantes contestado por muita gente. A alegação é de que como Águas Lindas é cidade-dormitório, muitos moradores não foram contados. E pelo número de ligações de energia elétrica feita pela Celg, acredita-se que o número de habitantes já se aproxima dos 300 mil.
Mas enfim, de quem é a culpa pela falta de água?
A questão do uso da água é uma equação simples de matemática: a quantidade de água no mundo é constante, só que estamos cada vez mais aumentando a população, e isso diminui a quantidade disponível de água por habitante. Seria desvario atribuir a uma única pessoa, a responsabilidade por um problema que vem sendo avisado há anos e ninguém nunca tomou qualquer iniciativa concreta que pudesse evitá-lo.
Desde o início do crescimento populacional de Brasília e da região próximo a Barragem do Rio Descoberto, especialistas da UNB, CAESB e ADASA, realizam estudos sistemáticos que já apontavam para o que Brasília está vivendo hoje; diversos programas de recuperação, proteção e preservação das margens e da bacia do Rio Descoberto foram elaborados como: a criação das Áreas de Preservação Permanente – APP, área de proteção ambiental – APP do Descoberto criada em 1983, a criação do Parque Estadual do Descoberto em 2005, a implantação da “faixa verde” ao redor do Lago, estabelecida em 1988 e várias outras ações, o problema é que essas ações nunca saíram do papel efetivamente, e hoje Brasília sofre pelo descaso de todos os governantes que passaram por lá.
Outro fator importante para a escassez de água em Brasília, foi a falta de consciência dos moradores da própria capital, que nunca atenderam ao apelo dos governos, da CAESB e da ADASA, no sentido de economizar água com ações simples como, fechar o chuveiro ao ensaboar, escovar os dentes com a torneira fechada, não lavar carro ou calçada com mangueira, só abrir a torneira no momento do enxágue da louça, etc. Hoje sentem na pele o que a falta de educação provoca nos ambientes naturais que nos servem.
Portanto, a responsabilidade por esse problema gravíssimo da falta de água que atinge a capital federal e que pode acentuar ainda mais se algumas providências não forem tomadas de forma urgente, é de todos nós; primeiramente os governos de Brasília e de Goiás, em ação conjunta, precisam implantar efetivamente, um programa de recuperação, proteção e preservação da bacia do descoberto retirando as invasões das áreas de proteção ambiental que provocam desmatamento, erosões, assoreamento das margens por atividades agrícolas, alteração do uso do solo de rural para urbano, ocupação irregular, processos erosivos generalizados, aumento da impermeabilização do solo, carreamento de sedimentos e lixo para os rios e lago e o assoreamento do lago. Por outro lado, os moradores da capital precisam conscientizar que se não economizarem água radicalmente, em um futuro não muito distante, precisarão comprar água mineral para suas necessidades básicas, porque no ritmo que anda, não demora para a água deixar de subir às torneiras da maioria das cidades satélites de Brasília.
Não podemos ser omissos e querer diminuir a parcela de responsabilidade da cidade de Águas Lindas de Goiás no processo de redução da oferta de água na capital, porque a cidade contribuiu efetivamente no processo. A construção de centenas de poços artesianos pelos moradores e pelo sistema de abastecimento de água local, diminuiu o volume de água do lençol freático da bacia do descoberto; a ganância de grileiros que não se importaram com a preservação das nascentes que desaguavam na bacia do descoberto e que foram aterradas para a construção de casas, destruiu áreas de preservação ambiental e de proteção permanente; a impermeabilização do solo pelo asfalto que é necessário na infraestrutura, diminuiu a infiltração de água no lençol freático; essas e outras ações prejudicam a recuperação da Bacia do Descoberto no período chuvoso que é quando o nível da água atinge sua capacidade máxima; mas Águas Lindas pode ajudar a amenizar esse problema sofrido pelos brasilienses, basta o governo local com o auxílio do governo de Brasília e de Goiás partirem para uma ação urgente e efetiva de mapeamento, recuperação e proteção das diversas nascentes que ainda existem na cidade e que desaguam no Rio Descoberto; não resolve, mas ameniza o sofrimento dos moradores da capital.
O fato é que agora temos um problema que a solução demanda tempo e que a responsabilidade é de todos nós. Os governos executando ações urgentes na recuperação e preservação das nascentes, margens e bacia do descoberto e a população conscientizando da importância de economizar água para não faltar. O período de estiagem que se aproxima preocupa porque mesmo com as constantes chuvas, os níveis do reservatório do Descoberto não chega perto do necessário para a sobrevivência dos moradores das cidades abastecidas por ele. Se ações urgentes não forem tomadas, um estado de calamidade pública se instalará na Capital de Todos os brasileiros.